Por Carolina Neris, Maria Vanessa Ataíde e Thaís Paim*
Dona de uma opinião forte e sorriso largo, a PhD em
física, Solange Bessa Cavalcante, fala com propriedade sobre os desafios de ser
uma cientista no Brasil. Professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal),
trabalha há 34 anos no Instituto de Física fomentando ensino e pesquisa desde a
iniciação científica até o pós-doutorado de seus alunos membros do grupo de Dinâmica Quântica e não linear. Também
participa do grupo “mulheres na física”.Ela fez uma breve pausa em sua agenda atarefada para compartilhar um pouco das alegrias e desafios de ser uma professora pesquisadora.
1 Por
que você escolheu a física? O que te atraiu para essa área específica?
Por gostar de Matemática e de disciplinas
dedutivas para as quais a memória, embora importante, não seja um fator
determinante.
Em que momento da graduação você decidiu ser pesquisadora?
No final da graduação, por gostar muito e
além disso por ter a noção que um professor pesquisador pode ser bem mais
preparado e, portanto, em princípio, bem melhor do que um professor não
pesquisador.
Como é ser uma mulher cientista em
ambiente predominantemente masculino?
Foi bem difícil, pois no passado você nunca era levada a sério já que
mocinhas iam à faculdade para esperar marido. No início é difícil, mas a gente
vai aprendendo a lidar com as situações, e eu já estava acostumada em casa,
porque cresci com um irmão dois anos mais velho do que eu. Tive que protestar
muitas vezes em muitas ocasiões, inclusive com as mulheres contra, mas essa é a
vida e eu não gosto de “mimimi”.
Como
surgiu o movimento "mulheres na física"?
Durante o meu Doutorado na Inglaterra eu
participei de um grupo de mulheres e depois em Maceió em 1989, a professora
Nádia Regina Loureiro de
Barros Lima iniciou esta discussão na UFAL, realizando um evento sobre Mulheres
na Ciência. Mais tarde no final dos anos 90, um grupo de físicas do Sudeste
iniciou esta discussão na comunidade de físicos, e um primeiro evento no Brasil
envolvendo não somente físicas, mas também cientistas de outras áreas como
Biologia compareceram. Nesse evento a ex-ministra Nilcéia da Secretaria das
Mulheres compareceu e nos apoiou fortemente com medidas concretas para
incentivar as mulheres à carreira científica. Medidas tipo: licença maternidade
para bolsistas, por exemplo, e outras, todas com a intenção de aumentar o
número de mulheres na carreira científica.
Qual
foi o momento mais desafiador da sua carreira?
Foi o final do Doutorado e todo o processo
que envolve a defesa de tese em terras estrangeiras na presença de professores
famosos na área.
Quais são os
principais desafios para o ensino de física na Ufal?

Como
você explicaria o seu trabalho como cientista?
Meu trabalho é atuar em física básica com o objetivo de aprofundar o
conhecimento para que este
venha a ser aproveitado no desenvolvimento de
dispositivos ópticos de última geração. Esse tipo de trabalho envolve um time
de pessoas que são como elos de uma corrente e que, se feito corretamente pode
proporcionar melhoria de vida para toda nação. Nessa corrente uma extremidade é a física básica, tanto teórica quanto experimental.
Nos laboratórios forma-se pesquisadores em todos os níveis, de iniciação
científica ao Doutorado e técnicos altamente especializados. Essas pessoas tem
o poder multiplicador e difundem esse conhecimento que deve ser aplicado para
que o país possa gerar riquezas e melhorar a situação da população. Por isso
que qualquer país rico e civilizado
tem sua economia baseada em Ciência, Tecnologia e Inovação. E ainda esta é uma
senhora diferença entre instituições públicas e privadas, pois a maioria das
instituições privadas voltadas para o lucro imediato, não sabem nem o que é
pesquisa básica, que dirá tecnologia e inovação.
Como você enxerga o
futuro da ciência no Brasil?
Durante o governo do PT eu já enxergava um futuro pífio porque apesar de
ser o governo que mais investiu em pesquisa desde que nasci, ainda investia
pouco em comparação aos países que sabem o quanto a pesquisa básica é
importante para a economia de uma nação. Imagine agora com essa ameaça que bate
à nossa porta. O futuro é negro, pois o líder nas pesquisas não tem proposta
decente para pesquisa e educação. Eu
costumo dizer que, se esses políticos soubessem o quanto ciência e tecnologia
(C&T) pode render ao país, eles certamente estariam investindo pesadamente
em C&T.
Durante
sua trajetória, em meio às dificuldades, o que te motivava para continuar?
Eu costumo funcionar ao contrário. Se as
pessoas me motivam a parar para mim significa que eu devo continuar firme e
forte. Talvez o ambiente competitivo em que cresci tenha me dado forças para
encarar essas coisas e ir adiante. Então as próprias dificuldades funcionam
como um motor para mim.
Quais são os seus
próximos projetos na área? Há algum projeto seu, em especial, que você
destacaria?
Sim tenho um projeto sobre novos materiais, conhecidos como
metamateriais, mas se eu começar a falar sobre ele, posso fazer o leitor dormir...
melhor não correr o risco.
Qual
a importância do incentivo à pesquisa, principalmente no meio acadêmico?
A maior importância é o efeito
multiplicador como mencionado acima, é a base de toda a Tecnologia e Inovação.
O
que você diria para alguém que sonha seguir a carreira de
cientista/pesquisador?

*Alunos do curso de Jornalismo, sob orientação da professora Magnólia Santos