Por
Franklin Lessa
Ocasionalmente
presenciamos campanhas em diversas mídias com a finalidade da promoção de
incentivo ao consumo de atividades culturais a partir de sua popularização. A
preocupação de uma parcela de governantes e população com o esquecimento do
teatro; dança; música e outras manifestações culturais, não é uma questão
exclusiva do nosso século. Há 107 anos, era inaugurado em Maceió, o Teatro
Deodoro com o intuito de materializar o sonho de progresso artístico vivido
naquela época, possibilitando mais visibilidade e relevância ao cenário
cultural alagoano.
O Teatro Deodoro é um patrimônio público do estado.
O prédio tombado mantém a arquitetura da época em que foi construído, se
tornando uma referência já pela historicidade. Além disso, mesmo após um século,
o Teatro tem um calendário intenso de atividades e um projeto que é uma das
maiores referências culturais do estado, o “Teatro Deodoro é o Maior Barato.”
Na sua 19ª
edição, o projeto “Teatro é o Maior Barato”, trará a partir do dia 23 de Maio,
espetáculos alagoanos, visando na valorização da produção local e na facilidade
de acesso do público às apresentações, contribuindo assim com a formação de
plateia no estado. Através desse
programa, qualquer artista da terra tem a oportunidade de levar sua arte para o
palco do Deodoro. “A Diretoria de Teatros
do Estado de Alagoas (Diteal) abre edital, anualmente, para as inscrições
das propostas. Em seguida, é feita análise dos documentos pela coordenação
jurídica para habilitação dos projetos. As propostas habilitadas são avaliadas
pela comissão que analisa itens como excelência artística e potencial de
formação de plateia”, explica a assessora de imprensa do Teatro Deodoro, Hanna
Copertino.
Sendo um lugar transitado por grandes companhias teatrais;
atores e nomes renomados da música e dança, o Teatro recebe inúmeras manifestações
culturais, além de programas que abraçam a sociedade, proporcionando uma rica
experiência cultural para a população. “Nós temos espetáculos que desenvolvem o projeto
escola com sessões direcionadas a estudantes, temos os ingressos gratuitos para
alunos da rede pública de ensino em todas as apresentações e, além disso,
apoiamos artistas da terra com projetos como o “Teatro Deodoro é o Maior Barato”
e cedendo espaço, quando somos procurados neste sentido”, explica Hannah.
Projetos como esses mostram sua importância, quando
consideramos alguns números. Segundo um levantamento feito em 2014 pelo Sesc e
pela Fundação Perseu Abramo, 6 em cada dez brasileiros nunca assistiram a uma
peça teatral. O estudo ouviu 2,4 mil entrevistados em 25 estados. Mesmo nesse
cenário, no ano passado, foi recebido mais de 7 mil pessoas nas 24
apresentações da 18ª edição do “Teatro é o maior barato”. No geral, o Teatro
apresentou 137 espetáculos, um público de 62 mil pessoas em 2017 e uma taxa de
ocupação de 75%.
Depender da arte é uma dificuldade vivida por
muitos artistas do nosso país, e pensando na perspectiva local, Maceió também
apresenta dificuldades para os artistas da terra. O ator Matheus Marin, está
terminando sua formação na Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de
Alagoas (ETA), e explana sua experiência. “Aqui em Maceió é muito
difícil de seguir e se sustentar com a carreira na arte. Ficar preso aqui é
fossilizar. Temos grandes artistas e a maioria deles passaram pela Escola
Técnica. É um dos únicos caminhos para quem busca se profissionalizar,
aprender, mudar a visão e se desconstruir”, relata.
Nesse ano foram abertas 141
vagas nos cursos técnicos da ETA. Dentre os cursos ofertados foram: Canto
Erudito, Instrumento Musical, Arte Dramática, Dança e Produção de Moda. Há 30
anos a Escola Técnica de Artes da Ufal, contribui de para a produção e estimulo
da criatividade, valorizando a formação do profissional das artes. Os cursos
técnicos profissionalizantes são focados no mercado de trabalho, onde são
aprofundados os conhecimentos práticos da profissão.
Apesar de muitos artistas se formarem em escolas
como a ETA, a classe de artistas recentemente tem se posicionado em relação à
Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 183 e 293, que trata, da
obrigatoriedade de diplomação ou certificação para o exercício da profissão de
músicos e artistas em espetáculos.
A não
regulamentação permitiria tornar-se profissional destas áreas qualquer pessoa
que não tenha diplomação acadêmica e certificado de capacitação. Para muitos
artistas, essa ação é desrespeita e marginaliza a profissão. Segundo Matheus, a
classe artística alagoana recentemente se reuniu para debater sobre essas questões
e foi encaminhado que em primeira instância, os artistas façam um manifesto, para
que todos eles recitem sempre antes de toda e qualquer atividade cultural. “Existe
uma diferença até nas profissões. O que nós buscamos é igualdade. É o nosso
lugar e o nosso respeito por escolher a arte como meio de vida e não ser
confundido e discriminado por isso. Escolhemos a arte e exigimos direito
igualitário, aposentadoria, licença maternidade, auxílio doença e tantos outros
direitos que todos os trabalhadores merecem”, Desabafa o ator.
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Matheus Marin em “O Despertar da Primavera” Foto:
Washington D’Anunciação
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Foto: Reprodução |
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Matheus Marin em protesto contra à ADPF 183 e 293. Foto: Reprodução- Instagram
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O Teatro Deodoro está localizado no centro da
cidade. Foto: Jonathan Lins
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O Teatro Deodoro tem capacidade para 690 pessoas.
Foto: Jonathan Lins