A presença holandesa em Alagoas é o tema de pesquisa divulgada
no calendário 2011 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas
(Fapeal). Lançamento aguardado no meio cultural de Maceió todos os anos, o
calendário está na oitava edição sob a coordenação do historiador Douglas
Apratto Tenório, juntamente com a museóloga Cármen Lúcia Dantas,
Em outras edições, Douglas Apratto contou também com a
colaboração de outros pesquisadores, como foi o caso da
historiadora Leda Almeida. O calendário divulga sempre temas
referentes à história e à cultura de Alagoas, a partir de uma abordagem
atualizada dos fatos, atrsavés de um texto que os contextualiza e dá uma visão
interna, alagoana, dos episódios e das imagens que são escolhidas para
ilustrar os calendários.
Mesmo em casos como o das fotos de Pierre Verger, por exemplo, tema do
calendário 2010, depois da descoberta das mesmas, em Salvador, a seleção das
imagens coube aos dois pesquisadores, que através dessa escolha puderam imprimir
também seu olhar sobre o olhar do fotógrafo francês. Além disso, a
pesquisa sobre o toma escolhido tem servido de ponto de partida para a
publicação de um livro com a mesma temática, para que todo o material e as
informações recolhidas não sejam desperdiçados e cheguem ao conhecimento não
somente dos alagoanos, mas de todos que se interessarem. Os dois últimos livros
lançados foram sobre o Rio São Francisco e sobre Pierre Verger.
A
cartofilia alagoana, a arta sacra de Alagoas, a destruição do patrimônio
arquitetônico histórico local, os caminhos do açúcar no estado e as coleções de
arte do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas foram os assuntos dos
outros calendários, sendo que alguns também foram aprofundados em livros, patrocinados
pelo Senado Federal, Edufal, Sebrae e Fundação Joaquim Nabuco, através da
Editora Massangana (de Pernambuco).
Holandeses em fatos e imagens
Mais
de 40 imagens ilustram o Calendário Fapeal 2011, em duas versões, de parede e
de mesa. Mapas, óleos sobre tela, gravuras, brasões e até fotografias o
compõem. A pesquisa é do historiador Douglas Apratto Tenório e da museóloga
Cármen Lúcia Dantas, o projeto gráfico de Fernando Rizzotto e a revisão de
Ivone dos Santos.
Os mapas fazem parte da coleção da época da presença holandesa em Alagoas e
mostram como era o território que os invasores encontraram, com seu relevo,
ilustração de algumas atividades econômicas e a visão da natureza, com fauna e
flora retratadas. Pinturas de Frans Post, como O Rio São Francisco
(1638), Porto Calvo (1639), Mocambos (1645) e Engenho (1661), e de Albert
Eckhout, como Forte Maurício sobre o Rio São Francisco (1671) e Churrasco
canibal, do mesmo ano, ajudaram a fixar a imagem dos trópicos pelos europeus.
As fotografias são de artefatos holandeses encontrados em outros trabalhos de
pesquisa, através de escavações, como jarros, cachimbos e louças, do Forte de
Paripueira (Acervo Ufal), e das moedas holandesas que chegaram a circular em
Alagoas.
Estão presentes, ainda, os principais brasões do Nordeste brasileiro sob
domínio holandês, o que possibilita comparações entre eles e a constatação da influência
da heráldica holandesa na atual Bandeira de Alagoas. Por fim, dois artistas contemporâneos
cederam trabalhos seus para o calendário, para que também ficasse registrada
uma visão atual e local dos acontecimentos. O alagoano Pierre Chalita, falecido
recentemente, com a tela Os invasores, de 2000, e o pernambucano que mora em
Alagoas, Gilvan Ciríaco, com Desembarque holandês em Barra Grande, de
2009.
Divulgação original
Segundo o coordenador do projeto, professor Douglas Apratto, o Calendário
Fapeal é muito mais que um objeto útil ou de coleção. “A publicação deste Calendário
Cultural e, em seguida, de um livro sobre a Presença Holandesa em Alagoas é o
resgate do esquecido tempo dos flamengos entre nós. Reunir todo o acervo
documental e bibliográfico que é desconhecido e fora do alcance dos estudiosos
é uma tarefa que enobrece os esforços da Fapeal em contribuir para o
desenvolvimento de nossa pesquisa histórica e de estímulo ao fortalecimento de
nossa identidade cultural”, afirma.
Apratto explica que, dos 24 anos de dominação holandesa, o que é mais conhecido
é o relato pernambucano, pois Alagoas ainda pertencia ao vizinho Estado, mas
que é importante conhecer os fatos que aconteceram em solo alagoano, assim como
os personagens. “Geralmente, os fatos conhecidos são do centro da capitania,
Olinda e Recife principalmente, e até algumas situações nas províncias do
Norte, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, estendendo-se também para Sergipe
e Bahia, outra grande capitania da época. Mas Alagoas, então periferia do polo
administrativo, participou ativamente dos desdobramentos dessa ocupação
estrangeira e é necessário que uma memória disto seja feita sob a ótica
alagoana”, diz.
Um dos objetivos do projeto, que além do calendário deve resultar num livro a
ser lançado em 2011, é contribuir para a formação de uma bibliografia básica do
tema, como tem feito nas edições passadas, além de tentar responder a questões
relativas à participação de Alagoas nessa parte da História, uma vez que, até
hoje, Pernambuco praticamente detém a exclusividade sobre o relato do
episódio. Além disso, pretende-se despertar o interesse de outros
pesquisadores e instituições sobre o tema, para que, com o conhecimento gerado,
além da História e da educação, também saiam fortalecidos o turismo cultural e
o desenvolvimento sustentável das cidades que fizeram parte do teatro da guerra
holandesa em nosso território. “É a Fapeal cumprindo plenamente o seu
papel”, conclui o pesquisador.